terça-feira, novembro 13, 2007

PRECISO DE FÉRIAS, SOL E MAR

Versos do meu querido amigo João Manjericão in "SanzalAngola"

Há uns tempos que preciso parar.
Um cansaço imenso, infinda fadiga
me domina e não me quer largar.
Estou seco como uma mulola. Uma espiga!

Tal como o Bero, o rio da minha terra,
de areento e seco leito, como um deserto,
mas famoso pelas cheias que prometia
e trazia lá do seu interior, de alta serra,
em cujos picos os cúmulos se rasgavam
libertando as águas que se precipitavam
por verticais socalcos de fera penedia,
e corriam, saltando com fragor até ao mar,
onde, após sucessos inenarráveis, ia desaguar.

Cheias famosas, mas efémeras, bem sabíamos,
nem outra coisa se pedia, nem seria de esperar,
mas, o certo, é que no seu percurso longo,
desde os plainos onde manadas de holongos,
correm. Imparável rasgava a secura do deserto,
e o areal pedregoso logo de verdes se cobria
matando fome e sede a mondombes e mucubais,
às cabras-de-leque, guelengues, zebras e tudo o mais,
que por aquela terra de Deus ver se podia.

Tal como nessas cheias imponentes e poderosas,
correram por aqui as minhas rimadas memórias.
Recriei figuras, imagens, costumes e paisagens,
fiz-me poeta e escritor. Fiz-me contador de história
e, dia a dia, renascia com lembranças gostosas,
de grandes e agitadas aventuras, de longas viagens...

De repente, percebi a fadiga de que era tomado
e, tal como no início deste tão agradável fado,
de novo voltei a ter a visão de um céu bem carregado
mas, por mais que pedisse e desejasse, não choveu.

As nuvens carregadas, o vento, relâmpagos e trovão,
nada concretizavam. De uma ilusão não passavam.
Cresceu à minha volta a expectativa Que aconteceu?
-pergunto-me. Nuvens e trovoada tudo desapareceu.
Os dias foram correndo e as mudança não chegavam,
mas as vossas mensagens, sem resposta não ficarão.

Amigos, preze a Deus que possamos acreditar
que o estado desta minha incapacidade actual,
este imenso cansaço, esta fadiga desabitual,
não sejam como as prometedoras cheias do Bero,
que só aconteciam, afinal, de quinze em quinze anos.
Seria terrível de mais para mim e não posso nem quero
deixar de pedir compreensão e que me possam perdoar.

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