domingo, abril 01, 2007

CARTA ESCRITA EM 2070

Meus caros amigos, aquí estou eu de volta ao Blog. Lamento o tempo que impossibilitou a minha intervenção. Prometo voltar mais amiúde.

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Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85, sérios problemas renais, porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente, muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro durante cerca de uma hora. Agora usamos toalhas embebidas em azeite mineral, para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.
Agora devemos rapar a cabeça para a manter limpa, sem água. Antes o meu pai lavava o carro com a água que saia de uma mangueira. Hoje, os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma. Recordo que haviam muitos anúncios que diziam “CUIDA DA ÁGUA”, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais podia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber, era de oito copos por dia, por pessoa adulta. Hoje, só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos de voltar a usar poços sépticos (fossas), como no século passado, porque as redes de esgotos não se usam, por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele, devido aos raios ultravioletas, que já não tem a capa de ozono que os filtrava na atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
As infecções gastrointestinais, enfermidades da pela e das vias urinárias, são as principais causas de morte.
A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-nos com água potável, em vez de salário.
Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética. Pela ressiquidade da pele, uma jovem de 20 anos, está como se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigénio também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos. Como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O Governo até nos cobra pelo ar que respiramos, 137 m3 por dia, por habitante e adulto.
As pessoas que não podem pagar são retiradas das “zonas ventiladas” , que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos, que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas pode respirar-se. A idade média é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio, o qual é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui em troca, não há árvores porque nunca chove, e quando chega a registar-se precipitação é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas atómicas e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia necessidade de cuidar do meio ambiente e ninguém fez caso disso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando eu era jovem, descrevo o bonito que eram os bosques, falo-lhe da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que se quisesse, o saudável que eram as pessoas.
Ela pergunta-me: “Papá ! porque se acabou a água ?”. Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou, destruindo o meio ambiente ou simplesmente não tomámos em conta tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto, quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra! ---"

Documento extraído da Revista Biográfica “Crónicas de los Tiempos”, de Abril de 2002

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