Vítor Constâncio quebrou a tradição e aproveitou o boletim da Primavera para rever em forte baixa as previsões para a economia portuguesa. O governador do Banco de Portugal mostrou que as coisas estão mal, mesmo muito mal, e que tão cedo não vão melhorar. O país atravessa a pior recessão desde 1975, arrastado pela forte contracção do investimento privado e das exportações. Em síntese, em 2009, o PIB deverá cair 3,5%, em vez de 0,8%, o valor previsto no Inverno. E num ápice, são seis mil milhões de euros que se evaporam, um montante que chega para suportar o investimento total no projecto do comboio de alta velocidade.
Pior, a retoma não chegará tão cedo. Constâncio já tinha avisado. Só no final de 2010 se começarão a sentir os primeiros sinais de recuperação e apenas em 2011 se poderá falar do princípio do fim da crise. Primeiro os Estados Unidos, depois a União a Europeia e só então Portugal. É este o desolador programa das festas.
Lido e relido o boletim do Banco de Portugal, não há palavra, por mais discreta, que sugira um pessimismo exagerado. Pelo contrário, o resultado final ainda pode ser pior. Os riscos são consideráveis e a incerteza não é grande, é enorme.
Mas não ficamos por aqui. Para além de mostrar a realidade, negra, Constâncio apresenta um futuro agreste. E avisa o Governo que deve começar já a pensar como é que, depois do lançamento do pacote anti-crise, vai voltar a meter em ordem as contas públicas. É que não há tempo para descansar. Tudo tem um preço, mesmo que só se pague mais tarde.
O aviso do Banco de Portugal serve para todos. Neste momento, com a inflação negativa, sobretudo à custa da forte descida do preço dos combustíveis, e com os juros baixos, sobra algum dinheiro na carteira. Vontade de gastar não faltará, mas isso também vai acabar. Com a retoma, os preços voltarão a subir, como já antecipam alguns economistas, e atrás virá a subida dos juros. O dinheiro vai e volta. A verdade é que não ficámos mais ricos.
publicado por Sílvia de Oliveira, em http://fimdepartida.blogs.sapo.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário