Aminetu Haidar já está em casa, o conflito gerado com a sua deportação foi solucionado com a restituição da normalidade que se interrompeu há um mês no aeroporto de El Aaiún, isto é, com a devolução do passaporte a Aminetu, a sua saída da zona internacional do aeroporto e o reencontro com a família que, como sucede quando uma pessoa regressa de uma longa viagem, havia acudido a recebê-la. Foi o que passou ontem à noite, é o que devia ter ocorrido há um mês se a lógica humana tivesse sido a norma.
Aminetu Haidar, num carro da família, com o seu médico de Lanzarote, não em ambulância, que os gestos também são importantes, regressou à intimidade familiar. Para trás fica uma greve de fome de mais de um mês, uma mobilização internacional sem precedentes em redor da sua causa, a reactivação de um conflito latente que agora está sobre a mesa e na agenda de vários governos e organismos internacionais como as Nações Unidas.
Aminetu Haidar saiu de Lanzarote acompanhada do carinho e da admiração de pessoas de todo o mundo. Ela, como Rosa Park, como as grandes lutadoras pea implantação dos direitos humanos, seguirá militando na causa do seu povo e de outros povos que podem viver situações semelhantes porque o seu empenho é o de que todas as pessoas, individual e colectivamente, sejam sujeitos de pleno direito e gozem do reconhecimento necessário para viver de acordo com o estádio democrático que alcançámos. Ela, sabemos os que a conheceram, não se vai render, esta experiência tão dura não fará esquecer-se dos seus sonhos. Não está tão claro o que fará a sociedade civil que se mobilizou estes dias, em alguns casos de forma admirável, que farão os organismos internacionais em cujas mãos está fazer com que se cumpram as resoluções políticas acerca do Sahara Ocidental, que farão os governos. Talvez actuem de acordo com o que os cidadãos expressem cada dia, talvez as prioridades se estabeleçam a partir do que a sociedade expresse, ainda que sejam os governos os que acedem aos boletins oficiais dos estados. Talvez os cidadãos se esqueçam demasiadas vezes que é em nós que reside a soberania. Em definitivo, Aminetu Haidar está em casa, com os seus filhos, com a sua mãe. Dentro de uns dias contrairá matrimónio, um segundo matrimónio que já devia ter sido celebrado. Oxalá esta normalidade não se veja interrompida por nenhuma actuação que conculque direitos fundamentais. E oxalá que enquanto ela recupera a sua saúde e alegria haja muitas pessoas no mundo reclamando para os saharauis o que eles pedem e as Nações Unidas estabelecem: o direito a eleger o seu futuro. Em harmonia com todos os seus vizinhos, em boa paz que para todos, absolutamente para todos, é imprescindível para viver a vida.
in http://www.josesaramago.org, por Pilar del Río
domingo, dezembro 27, 2009
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