sexta-feira, fevereiro 19, 2010

O Zé Povo, por Manuela Fonseca - BARREIRO

In http://www.rostos.pt
Aos trinta anos, o Zé Povo (no feminino e no masculino) recebe um mísero salário ou nem trabalho tem; pede ajuda aos pais, se podem dá-la, e, na procura de colocação, sofre com a ida ao centro de Emprego, em fila, interminável, de gente aflita e desvalorizada, envergonhada por uma minoria social, ignorante e trituradora, que o colocou assim. Depois de oito décadas de vida, o Zé Povo, idoso (no feminino e no masculino), na sua pobre aldeia sofre, sofre para ter acesso a cuidados na doença, o Centro de Saúde longe, a dispendiosa e massacrante viagem para lá chegar. E o magro dinheiro que mal dá para comer e comprar medicamentos, a desesperar o Zé que, tantos anos de trabalho árduo, só e longe dos filhos que bem o chamaram para ir viver com eles em França, nada lhes quer pedir.
Às vezes apetece-lhe acabar com tudo de uma vez por todas mas os valores que o orientam impedem-no de tomar uma medida drástica da qual não regressaria.
Depois de quatro décadas a trabalhar, o Zé Povo (no feminino e no masculino) que chegou a sénior, estupefacto com as discrepâncias sociais que a estranha democracia (que, pela primeira vez, registo com minúscula inicial) portuguesa proporciona, leva para casa quinhentos ou seiscentos euros. Um oportunista – que ele conhece de vista e vive de espertezas diversas, no mundo da baixa política e das empresas que ficaram cheias de incompetentes, como esse, que não souberam / que não quiseram gerir o País – aboleta-se, por aqui e por ali, com o que o que lhe é permitido acumular e repartir com a família, constituída com as esposas número um e número dois, os filhos com essas senhoras: dinheiro, habitações, acções e o mais que, impunemente, tem arrecadado. Para gastar com as casas e casinhas, viagens e viagenzinhas a que se habituou, em anos de lazer (mal) disfarçados de trabalho-a-fingir com dinheiros do Estado / de todos.Depois de vinte anos de sacrifício na fábrica, o Zé Povo (no feminino e no masculino) vê fechar a unidade produtiva que, mal ou bem, lhe proporcionou o ganha-pão. De um momento para o outro, cinco cidadãos ficam na máxima aflição: pai, mãe, um jovem estudante do ensino superior que terá que interromper um curso, desejado, e a meio, uma menina que só poderá manter-se no Jardim-de-infância porque este pertence ao sistema escolar público. E Pedro, ainda guardado na mãe, que os seus entendem que não há-de, indefeso, deixar de nascer por causa da crise contra a maioria. E que se farta de rir: dentro de dezoito anos receberá o subsídio por ser dado à luz hoje…
O agregado familiar comerá os vegetais que, amorosamente, tem cultivado. E a conta na mercearia e no talho? E o vestuário? E o calçado? E a água, a luz e o telefone? E a prestação do carrito em segunda mão, comprado há um ano?
Aos trinta anos, o Zé Povo (no feminino e no masculino) recebe um mísero salário ou nem trabalho tem; pede ajuda aos pais, se podem dá-la, e, na procura de colocação, sofre com a ida ao centro de Emprego, em fila, interminável, de gente aflita e desvalorizada, envergonhada por uma minoria social, ignorante e trituradora, que o colocou assim.
Recebe, quando recebe, subsídio da Segurança Social, menorizado por querer sobreviver com dignidade e ter essa possibilidade cerceada. O Zé Povo (no feminino e no masculino) está na escola básica: desmotiva-se dos seus deveres e da obtenção de novos saberes com os pequenos (ou nem por isso) malandretes que, impunes e, um futuro de arruaça no desgraçado horizonte, o roubam, ameaçam, agridem verbalmente e, por vezes, também lhe batem. À vontade ou quase. O Zé Povo (no feminino e no masculino) faz o que pode para ajudar os (ainda) mais necessitados do que ele; a última catástrofe natural haitiana incomoda-o, fá-lo solidário.
Acompanha as notícias acerca do apoio ao mais pobre país da América e permite-se uma expectativa, elevada, ao saber da coordenação da ajuda humanitária e a reconstrução do Haiti, coordenada pelo Presidente Bill Clinton, a pedido do Secretário-Geral da ONU.
E lembra-se de iniciar uma petição ao homem que geriu e bem, a vida dos Estados Unidos da América. Para que também venha ajudá-lo a ele, Zé Povo (no feminino e no masculino), na organização da vassourada aos abusadores do poder, aos que e se serviram e servem de Portugal para encher a barriga; espécie de sapos, com o da velha fábula, no desejo de aumentar, aumentar o ventre para chegar a touros. Como são ignorantes e não estudam Literatura, ainda não perceberam que vão rebentar. Finalmente, o Zé Povo acorda contra a barbárie de que é alvo.
Manuela Fonseca - Colunista do Jornal Rostos

O TANGO DO ELEFANTE

O tango do elefante
Fernando Sobral, in http://raivaescondida.wordpress.com
O Estado português parece um elefante a exercitar-se na nobre arte do tango. Quando agarra o seu par, pisa-a. Depois esmaga-a. E, como passo final, esborracha-a. Esta falta de jeito para dançar não é de hoje: há muitos séculos que o Estado português sufoca a sociedade civil e a existência de grupos económicos que vivam longe da sua bananeira. Foi assim no tempo dos Descobrimentos, na época em que os monopólios eram outorgados aos amigos, é assim agora. Saltitando como um elefante que quer fazer de Rudolf Nureyev, o Estado tem actuado de forma elegante na PT e na Cimpor. Mostra o desprezo que tem pela sociedade civil e o receio que algo escape ao seu controle. Na Cimpor, a CGD (braço armado do Estado) conseguiu substituir uma bagunça nacional por uma confusão brasileira. Na PT, o Governo, impondo gestores amigalhaços, conseguiu criar uma tourada nacional, embora ainda não se saiba se é à antiga portuguesa ou a se a pega é de cernelha. O Estado português precisa daquilo que Hamlet disse de Polonius: “Deixem que as portas se fechem atrás dele, para que não possa fazer de louco em lado algum para lá da sua própria casa”. Este Governo é uma Popotinha louca. Aquilo que o actual Governo está a fazer com o Estado mostra que o socialismo de Sócrates já nem está na gaveta: perdeu–se num “blog” qualquer da sua central de propaganda. Nenhum Governo conservador ou liberal denegriria tanto o Estado como aquilo que este que se diz “socialista” faria. Com Sócrates, o Estado tornou-se um elefante que destrói todas as lojas de porcelana da sociedade civil.

Crise é...Crise

COMUNICADO do Gabinete do 1º Ministro
Faz o Governo saber que, até nova ordem, tendo em consideração a actual situação das contas públicas e como medida de contenção de despesas, a luz ao fundo do túnel será desligada.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

ISTO SÓ NO PAIS DA ALICE....

A pouca vergonha continua. Ao que isto chegou. SILVA LOPES, com 77 (setenta e sete) anos de idade, ex-Administrador do Montepio Geral, onde saiu há pouco tempo com uma indemnização de mais de 400.000 euros, acrescidos de várias reformas que tem, uma das quais do Banco de Portugal como ex-governador, logo que saiu do Montepio foi nomeado Administrador da EDP RENOVAVEIS, empresa do Grupo EDP. Com mais este tacho dourado, lá vai sacar mais umas centenas de milhar de euros num emprego dado pela escumalha politica do governo, que continua a distribuir milhões pela cambada afecta aos partidos do centro. Entretanto o Zé vai empobrecendo cada vez mais, num pais com 20% de pobres, onde o desemprego caminha para níveis assustadores, onde os salários da maioria dos portugueses estão cada vez mais ao nível da subsistência.
Silva Lopes foi o tal que afirmou ser necessário o congelamento de salários e o não aumento do salário mínimo nacional, por causa da competividade da economia portuguesa. Claro que para este senhor, o congelamento dos salários deve ser uma atitude a tomar, (desde que não congelem o dele, claro). Quanto a FERNANDO GOMES, mais um comissário político do PS, recebeu em 2008, como administrador da GALP, mais de 4 milhões de euros de remunerações. Acresce a isto um PPR de 90.000 euros anuais, para quando o " comissário PS " for para a reforma. Claro que isto não vai acontecer pois, tal como Silva Lopes, este senhor vai andar de tacho em tacho, tal como esta cambada de ex-politicos que perante a crise " assobia para o ar ", sempre com os bolsos cheios com os milhões de euros que vão recebendo anualmente.
Estes senhores não têm vergonha na cara? ISTO MEUS AMIGOS NÃO É UMA VERGONHA, É UM ESCÂNDALO!

domingo, fevereiro 14, 2010

EDUARDO PRADO COELHO DIXIT

Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta. Precisa-se de matéria prima para construir um País. Eduardo Prado Coelho - in Público.
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país: -Onde a falta de pontualidade é um hábito; Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano; Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos; Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros; Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica; Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame; Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar; Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão; Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta. Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS . Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO . AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO. E você, o que pensa ?... MEDITE !

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

FORMIGUINHAS....

A filosofia do Ministério - A fábula das formigas
Como funcionam os Ministérios...Todos os dias, uma FORMIGA chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho. A formiga era produtiva e feliz. O gerente BESOURO estranhou a FORMIGA trabalhar sem supervisão. Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada. E colocou uma BARATA, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora. A primeira preocupação da BARATA foi a de padronizar o horário de entrada e saída da FORMIGA. Logo, a BARATA precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou também uma ARANHA para organizar os arquivos e controlar as ligações telefónicas. O BESOURO ficou encantado com os relatórios da BARATA e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões. A BARATA, então, contratou uma MOSCA, e comprou um computador com impressora colorida. Logo, a FORMIGA produtiva e feliz, começou a lamentar-se de toda aquela movimentação de papéis e reuniões! O BESOURO concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a FORMIGA produtiva e feliz, trabalhava. O cargo foi dado a uma CIGARRA, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial. A nova gestora CIGARRA logo precisou de um computador e de uma assistente a PULGA (sua assistente na empresa anterior) para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde trabalhava a FORMIGA, que já não cantarolava mais e cada dia se tornava mais chateada. A CIGARRA, então, convenceu o gerente BESOURO, que era preciso fazer um estudo de clima. Mas, o BESOURO, ao rever as cifras, se deu conta de que a unidade na qual a FORMIGA trabalhava já não rendia como antes e contratou a CORUJA, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação. A CORUJA permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório, com vários volumes que concluía : Há muita gente nesta empresa!!
E adivinha quem o BESOURO mandou demitir? A FORMIGA, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida. Já viu esse filme antes?
Bom trabalho a todas as FORMIGAS!

ENTÃO JÁ NÃO SE CHUMBA?

O papel da escola na formação dos cidadãos por um Aluno do 9ºano EB 2/3 Espinho. E ainda dizem que não deve haver CHUMBOS! Depois disto, Se este aluno passou ou passar, não será facilitismo?
Se tiver dificuldade na interpretação da resposta do aluno, aqui vai a transcrição possível sobre a opinião do mesmo sobre o papel da escola na formação dos cidadãos :
O papel da escola eu axo que é igual a um papel qualquer de imprensa A4. E de certeza que é. tem a mesma grossura e tudo. Agora se estão a falar, por exemplo, das folhas de Teste que é uma folha A3 duberada ao me fazendo duas folhas A4, axo melhor que as folhas de teste sejam assim do que só uma folha A4, essas fichas que os professores dão são sempre folhas de formato A4 ou de formato A5 . Os testes As professoras metem sempre folhas de formato A4 mas quando são mais as professoras agrafam sempre as folhas e nunca fazem teste com folhas formato A5. Por isso eu axo que as folhas desta escola são iguais às das outras escolas ou de outras empresas.
E que tal? Sem palavras...

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

É preciso que se saiba

"... que os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, enquanto os nossos gestores recebem em média:
- mais 32% do que os americanos;- mais 22,5% do que os franceses;- mais 55 % do que os finlandeses;- mais 56,5% do que os suecos".
(dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/08)
E são estes gajos que chamam a nossa atenção porque "os portugueses gastam acima das suas possibilidades"
[portugal republicano sec XXI] - saber é preciso; ignorar é cumplicidade.

domingo, fevereiro 07, 2010

Sejamos mais humanos, inteligentes e sensíveis...



HOMEM DE GRANDE CORAGEM E HUMANISMO, Dr. Fernando Nobre - Presidente da AMI
A revolta do Presidente da AMI, Dr. Fernando Nobre
"Temos 40% de pobres". - III Congresso Nacional de Economistas
O presidente da AMI, Fernando Nobre, criticou hoje a posição das associações patronais que se têm manifestado contra aumentos no salário mínimo nacional. Na sua intervenção no III Congresso Nacional de Economistas, Nobre considerou "completamente intolerável" que exista quem viva "com pensões de 300 ou menos euros por mês", e questionou toda a plateia se "acham que algum de nós viveria com 450 euros por mês?"
Numa intervenção que arrancou aplausos aos vários economistas presentes, Fernando Nobre disse que não podia tolerar "que exista quem viva com 450 euros por mês", apontando que se sente envergonhado com "as nossas reformas".
"Os números dizem 18% de pobres... Não me venham com isso. Não entram nestes números quem recebe os subsídios de inserção, complementos de reforça e outros. Garanto que em Portugal temos uma pobreza estruturada acima dos 40%, é outra coisa que me envergonha..." disse ainda.
"Quando oiço o patronato a dizer que o salário mínimo não pode subir.... algum de nós viveria com 450 euros por mês? Há que redistribuir, diminuir as diferenças. Há 100 jovens licenciados a sair do país por mês, enfrentamos uma nova onda emigratória que é tabu falar. Muitos jovens perderam a esperança e estão à procura de novos horizontes... e com razão", salientou Fernando Nobre.
O presidente da AMI, visivelmente emocionado com o apelo que tenta lançar aos economistas presentes no Funchal, pediu mesmo que "pensem mais do que dois minutos em tudo isto". Para Fernando Nobre "não é justo que alguém chegue à sua empresa e duplique o seu próprio salário ao mesmo tempo que faz uma redução de pessoal. Nada mais vai ficar na mesma", criticou, garantindo que a sociedade "não vai aceitar que tudo fique na mesma".
No final da sua intervenção, Fernando Nobre apontou baterias a uma pequena parte da plateia, composta por jovens estudantes, citando para isso Sophia de Mello Breyner. "Nada é mais triste que um ser humano mais acomodado", citou, virando-se depois para os jovens e desafiando-os: "Não se deixem acomodar. Sejam críticos, exigentes. A vossa geração será a primeira com menos do que os vossos pais".
Fernando Nobre ainda atacou todos aqueles que "acumulam reformas que podem chegar aos 20 mil euros quanto outros vivem com pensões de 130, 150 ou 200 euros... Não é um Estado viável! Sejamos mais humanos, inteligentes e sensíveis".

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

POESIA, SEMPRE É POESIA!

Porque será que a história se repete e não se aprende com os erros da HISTÓRIA?
Tão actual em 1969, como hoje. Depois ainda dizem que a tradição não é o que era!!!
Soneto (quase) inédito) de José Régio - Em memória de Aurélio Cunha Bengala

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
(Em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos)

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

SÃO UMAS ATRÁS DAS OUTRAS...

O Fim da Linha, de Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há “Yes-Men” cabeceando em redor de líderes do momento dizendo “yes-coisas”, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos média como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro-Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.