quinta-feira, abril 22, 2010

- E X P O S I Ç Ã O –

"Carta" dirigida a Salazar - vale a pena ler "Nunca precisámos de outra coisa!" FOI FEITO EM 1934.Se isto acontecesse hoje, ai que alegria da comunicação social...Conta-se que este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e Salazar até se fartou de rir (??!!!) quando o leu:

- E X P O S I Ç Ã O -

Porque julgamos digna de registo a nossa exposição, senhor Ministro, erguemos até vós, humildemente, uma toada uníssona e plangente em que evitámos o menor deslize e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira, desmoita, lavra, atalha a sementeira, suando até à fralda da camisa. Falta a matéria orgânica precisa na terra, que é delgada e sempre fraca! - A matéria, em questão, chama-se caca. Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa. Se os membros desse ilustre ministério querem tomar o nosso caso a sério, se é nobre o sentimento que os anima, mandem cagar-nos toda a gente em cima dos maninhos torrões de cada herdade. E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar quando tiver vontade de cagar venha até nós solícito, calado, busque um terreno que estiver lavrado, deite as calças abaixo com sossego, ajeite o cú bem apontado ao rego, e... como Presidente do Conselho, queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?...Então, comprima, aperte os intestinos; se lhe escapar um traque, não se importe, ... quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte? Quantos porão as suas esperanças n'um traque do Ministro das Finanças?... E quem vier aflito, sem recursos, Já não distingue os traques dos discursos. Não precisa falar! Tenha a certeza que a nossa maior fonte de riqueza, desde as grandes herdades às courelas, provém da merda que juntarmos n'elas. Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa. Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...Tragam-nos merda pura, do bispote! E todos os penicos portugueses durante, pelo menos uns seis meses, sobre o montado, sobre a terra campa, continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas; desespero de arados e charruas, quem as compra ou arrenda ou quem as herda sente a paixão nostálgica da merda...Precisamos de merda, senhor Soisa!... E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa das inúteis retretes de Lisboa!...Como é triste saber que todos vós Andais cagando sem pensar em nós! Se querem fomentar a agricultura mandem vir muita gente com soltura. Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade, não faremos questão da qualidade. Formas normais ou formas esquisitas! E, desde o cagalhão às caganitas, desde a pequena poia à grande bosta, de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa. Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo, Évora, 13 de Fevereiro de 1934.
O Presidente. D. Tancredo (O Lavrador)

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